Milhares na caminhada
dos têxteis, vestuário e calçado

Pobreza nos salários<br>é o lucro dos patrões

O Governo, a troika e os patrões querem convencer os trabalhadores a aceitarem salários que rondam o limiar da pobreza, para que os donos das empresas possam ter lucros cada vez maiores, acusa a Fesete/CGTP-IN, que promoveu uma «caminhada» no sábado, em Guimarães, com milhares de pessoas.

Os sindicatos vão persistir na unidade e luta dos trabalhadores

LUSA

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Também por melhorias salariais e pela mudança de Governo e de política, ocorreram dia 21, no Porto e em Braga, lutas nas indústrias química, eléctricas e gráfica.

A decisão de realizar uma jornada de luta sectorial, no Vale do Ave, saiu do 11.º Congresso da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles de Portugal, há um mês, perante o forte agravamento das condições de vida dos trabalhadores, resultante da política de «austeridade» e do boicote das associações patronais à negociação de salários em 2012 e em 2013.
Para a Fesete, esta situação torna-se ainda mais injusta e inaceitável, quando a generalidade das empresas exibe números que reflectem crescimento das exportações há vários anos, depois de perdas sucessivas de emprego (mais de 70 mil postos de trabalho foram liquidados nos últimos oito anos).
 

Brutal 

A federação afirma que, com o presente volume de exportações, o valor destas por trabalhador é, nos últimos três anos, dos maiores alguma vez atingidos. Quando apresentou a «caminhada» aos jornalistas, a Fesete citou mesmo o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), que no dia 10 afirmou, no Jornal de Notícias: «a produtividade subiu brutalmente».
Tomando por base o ano de 2009, as exportações de têxteis, vestuário e calçado cresceram, no global, 6,3 por cento, em 2010; 20 por cento, em 2011; e 21 por cento, em 2012. Traduzido por sub-sectores, explica a federação, verifica-se que as malhas crescem desde 2010; o vestuário cresce desde 2005; o calçado, os tecidos e malhas, os tecidos especiais, os tapetes e a cordoaria e redes crescem desde o ano 2000.
«Basta de empobrecimento! Exigimos melhores salários e emprego! Queremos uma vida digna!» – sob este lema, para a tarde de 23 de Março, mobilizaram-se trabalhadores destes sectores, a nível nacional, com mais relevo para distritos como Aveiro, Porto, Viana do Castelo e Braga, e para o concelho de Guimarães e a zona do Vale do Ave, onde se concentra o maior volume de emprego. Percorreram cerca de quatro quilómetros, pelas principais artérias da cidade, concentrando-se por fim junto ao coreto da Alameda de São Dâmaso.
Nas intervenções do Secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos, e do coordenador da Fesete, Manuel Freitas, bem como na resolução aprovada pelos participantes na jornada, afirmou-se a importância de prosseguir a mobilização e organização dos trabalhadores, para que se faça sentir o descontentamento e o protesto, para alcançar melhores salários e para que o salário mínimo nacional (auferido pela maioria do pessoal, nos têxteis, vestuário e calçado, reduzido a 432 euros após os descontos) passe urgentemente para 515 euros.
Foi reafirmada a exigência de demissão do Governo e mudança de política, já que o actual poder converge com os objectivos do patronato de empobrecimento e aumento da intensidade da exploração dos trabalhadores.
Ficou ainda declarado o compromisso de participar activamente na «Marcha Contra o Empobrecimento» organizada pela CGTP-IN, com início em Braga e na Guarda, a 6 de Abril, e que terminará em Lisboa, no dia 13.

 

Protestos dia 21

No dia 21 de Março, ocorreram acções de protesto de trabalhadores na Maia, em Vila Nova de Famalicão, em Braga e no Porto. Nestas duas últimas, participou também o Secretário-geral da CGTP-IN.

Cerca das 9.30 horas, dirigentes da Fiequimetal e de sindicatos representativos do pessoal da indústria química, bem como algumas dezenas de trabalhadores da Euroresinas, que se deslocaram desde Sines, concentraram-se frente à Sonae Indústria, na Maia. Através da sua participada Euroresinas, a Sonae integra os órgãos da associação patronal APEC, da qual é exigido que cumpra o contrato colectivo e respeite a negociação, bloqueada desde a entrada em vigor do Código do Trabalho. Daniel Silvério, dirigente da federação e da CGTP-IN, explicou à agência Lusa que a APEC queria dar o contrato por caducado, mas foi impedida pela resistência dos trabalhadores, até à última revisão da lei, que no Verão passado veio admitir a redução do valor do trabalho suplementar.

Também nessa manhã, em Lousado, no concelho de Vila Nova de Famalicão, várias dezenas de dirigentes e activistas sindicais receberam o Presidente da República com faixas, cartazes e palavras de ordem. Cavaco Silva, que ali foi inaugurar a nova fábrica da Leica, deve «fazer aquilo para que foi eleito e acabar com este Governo, que só tem atacado os trabalhadores», disse à Lusa o coordenador da União dos Sindicatos de Braga, Joaquim Daniel.

No Complexo Grundig, em Braga, trabalhadores da Bosch, da Delphi e da Fehst participaram numa concentração iniciada cerca das 14 horas. Perante um despedimento colectivo, alteração de horários de trabalho, tentativa de retirar mais dois feriados e recusa de aumentos salariais, o SITE Norte salientou que «a hora não é de resignação, mas sim de luta». A demonstrar solidariedade, esteve no local uma delegação do PCP, que valorizou, em particular, a combatividade dos trabalhadores da Bosch, sujeitos a graves perdas salariais pela imposição de novos horários.

No Porto, junto aos serviços regionais do Ministério do Emprego, concentraram-se, a partir das 16 horas, representantes dos trabalhadores da metalurgia e das indústrias eléctricas, gráfica e química. Promovida pelo SITE Norte e a Fiequimetal, a acção visou exigir medidas que combatam o desemprego, o encerramento e a deslocalização de empresas, nomeadamente multinacionais. Arménio Carlos, citado pela Lusa, salientou a necessidade de uma política que não promova Portugal como um país de baixos salários e exploração desenfreada. O investimento estrangeiro será bem vindo, ressalvou o dirigente da Intersindical, desde que haja criação de emprego com direitos e com salários adequados.




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